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  • Foto do escritorFrancisco Nakahara

Um passo de gigante

Atualizado: 10 de jan. de 2023


Já estava escurecendo quando fui chamado pelo instrutor para o mergulho de checkout básico, mesmo tendo performance boa na piscina, no mar a 12 metros a realidade podia ser diferente.


Lembro claramente da ansiedade do dia anterior e do fato que só sabia nadar no mais puro estilo martelo, quando você cair na água e vai direto para o fundo.


Na quinta feira, antes da viagem à Ilha Grande, chovia muito, então liguei para a escola perguntando se com chuva teríamos o checkout e recebi a resposta que "debaixo d'água não chove", essa, aprendi para o resto da vida.


O Luz do dia, nome do barco, era todo checkout naquele dia, cerca de 10 casais embarcados revezando nos exercícios, não sei se por conta de minha dupla ter tido dificuldade na retirada de máscara ou se por acaso, mas ficamos por último.


Um passo de gigante e eu já estava em outro mundo, sinal de descer e todos os sons passaram a se resumir nas bolhas que saiam do diafragma do Octopus. A cada metro equalização e conferência de estado entre nós, o famoso OK. De repente senti meus pés batendo em logo e vi que era o fundo arenoso, olhei o profundimetro que registrava 12 metros.


Eu sei, você deve estar pensando que 12 metros se faz até no peito livre, mas imagine alguém que mal sabia nadar cachorrinho, no fundo do mar a 12 metros...me senti um astronauta.

André, o instrutor fez sinal para começarmos as demonstrações, ele começaria com minha dupla, depois seria minha vez e... Surpresa, no primeiro exercício um início de pânico e minha dupla disparou em uma subida sem freio imediatamente o André agarrou seu colete e soltou o ar do próprio colete fazendo peso, na tentativa de compensar a velocidade, a meio caminho olhou para baixo e me fez sinal para aguardar com calma.


Fiquei ali, olhando para cima vendo os dois sumirem em um céu de água que a essa altura não deixava ver nada além dos quatro primeiros metros pela baixa claridade da tarde.


No começo me senti completamente sozinho, somente o som das bolhas, depois de uns minutos, talvez por estar quieto o mundo em volta começou a se formar, cardumes de cocorocas e olhos de cão passaram várias vezes à minha volta como se eu não tivesse ali, por vezes se aproximavam como se tivesse em um vôo de reconhecimento, mas de forma bem desconfiada.


Eu já reconhecia outros sons e quando os segui e olhei para o que eu achava serem pedras vi alguns peixes enormes de boca arredondada (peixe papagaio) mordiscando e cuspindo pedaços.


Foram meus primeiros 15 minutos debaixo d'água, cada um deles valeu por uma vida e eu agora tinha certeza que queria estar lá por muito mais tempo na vida.


Dessa experiência veio o aprendizado que com devido respeito podemos ser aceitos em qualquer ambiente, mesmo os conhecidos como selvagens, dessa aceitação a sensação de pertencimento e a gratificação de ver e saber sobre coisas que poucos tem acesso.

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